18/10/2009

Tristeza não tem fim, felicidade sim (?)



Os Salmos, a felicidade e o cristianismo:
O que isso tem a ver com você?




Um final de semana diferente, acampando longe do barulho da cidade.

Lá vai rolar:

# Discussões e bate-papo sobre a Bíblia e a vida

♫ Música (inteligente)

► Esportes Radicais (Arco-e-flecha, mountain bike,...)

E MUITO MAIS!




Ínicio: 23/10 às 22h - Fim: 25/10 às 14h
Preço: R$30 (c/ alimentação, transporte e hospedagem inclusos)
Local: www.refugiocamp.com.br

Dúvidas e Inscrições: abuscar@yahoo.com.br
Realização: ABU São Carlos


08/10/2009

Religião é uma Várzea (Parte 1)

O Reino da Delicadeza
Um desconforto vem me acompanhando há bastante tempo. A dificuldade com que muitos recebem a proposta de uma religião radicada no amor e não no medo, na liberdade e não no patrulhamento moral, na maioridade e não na infantilização.

Ouço de tudo. Aquele que acredita que para algumas pessoas uma espiritualidade baseada na consciência e responsabilidade, frutos livres de uma relação de amor e não de constrangimento, é perigosa, quando não, pouco producente para os engajamentos religiosos. Há pessoas, afirmam com um pragmatismo encabulado, que precisam de regras, coerção e cobrança. Precisam de uma religião legalista. Caso contrário, não conseguem vencer seus vícios e pecados.

Outros desconfiam da liberdade. Pregar um Deus que ama em completa independência do desempenho humano é muito arriscado. Deus também é justiça! A Graça de Deus tem que ter limite. Se a pessoa não tiver medo do inferno, vai fazer tudo o que der na cabeça. Se não souber que existe uma punição divina para os seus deslizes, vai se tornar alguém imoral.

Vejo o descontentamento de alguns com a sugestão de que a imperfeição não é pecaminosa, mas um dom divino que torna a vida significativa e mais bonita. E, apesar de ninguém conseguir uma vida perfeita, esbravejam que Deus não pode abrir mão de que sejamos perfeitos.

Tirando de lado a questão semântica, de que a imperfeição a que me refiro é alusão ao que não está pronto, ao que é livre para ser, ou ao que está sempre em via de se tornar. Liberdade e não inconseqüência, leveza e não leviandade. O que, então, incomoda tanto algumas pessoas?

Por que o anúncio libertador de que Deus não espera de nós a perfeição amedronta alguns?

Desconfio de algo. Se tirarem o medo, ou a culpa, de sua fé, ficam sem fé. Se crer em Deus não for um movimento em busca de blindagem diante da insegurança do mundo, ou absolvição sem fim de uma insuperável culpa, revelam-se incrédulos. Ateísmo desesperado.

A religião a que fomos apresentados é um comportamento motivado pelo medo. Medo de não ser aprovado, o que é o mesmo que não ser amado. Ou medo de estar fazendo a coisa errada e ganhar um destino infernal. Foi a partir desse medo que aprendemos a rejeitar comportamentos tidos como réprobos. Fazemos e deixamos de fazer coisas pelo medo de sermos punidos pela implacável justiça divina.

Mas também medo de ficarmos expostos aos infortúnios de uma orfandade religiosa. Vivemos em um mundo inseguro, que muitas vezes se mostra desfavorável à nossa busca de bem estar. A religião promete um apadrinhamento divino. Foi a partir desse medo e da expectativa de um arranjo sobrenatural para garantir uma vida de exceção que aprendemos a cultuar nossas divindades.


Elienai Cabral Junior
(em seu blog - Salvos da Perfeição)

09/09/2009

O segredo é O Livro

Cegueira no vale da Visão

“O que está perturbando vocês agora, o que os levou a se refugiarem nos terraços, cidade cheia de agitação, cidade de tumulto e alvoroço?”

Estas são as palavras do profeta Isaías, ditas há muito tempo a um povo que se chamava santo, mas que nada tinha de santidade. No contexto deste complexo 22º capítulo do livro de Isaías, o profeta sabe que o clima deveria ser de luto. Porém, como havia feito muitas vezes, o povo, seguindo líderes vaidosos e gananciosos, não ouviu a voz de Deus e preferiu festa e júbilo às lamentações e choro exigidos pelo profeta.

Isaías estava triste porque Jerusalém seria capturada pelos babilônios e a desgraça seria mais que merecida, já que o povo havia se esquecido do Senhor. De acordo com J. Alec Motyer, o pecado da cidade era a autossuficiência. As pessoas achavam que podiam se salvar por meio de alianças com os povos ao redor, construindo muros cada vez mais altos e sistemas de defesa cada vez mais aprimorados. Por isso a cidade estava em festa, celebrando uma vitória passageira. Jerusalém esqueceu-se da aliança com seu Deus.

As palavras de Isaías à cidade de Jerusalém são tão relevantes para nossas cidades hoje quanto foram para o povo de Deus no passado. Vivemos cheios de temor e medo: medo que a violência chegue à nossa porta ou medo de sermos violentos; medo da pobreza, da riqueza, da doença, da morte e até da vida. Para onde foi o temor de Deus?

O profeta, como muitos antes e depois dele, clamava ao povo para que ouvisse sobre a salvação que somente Deus poderia oferecer-lhes. Porém, o povo, como muitos cristãos hoje, preferia ficar de olhos fechados, cegos para as palavras de Deus e focados em suas habilidades e nos prazeres vãos da vida.

Esquecemos que, como Israel, somos chamados para sermos um povo missionário, um povo diferente e transformador em nossa sociedade. Está na moda uma igreja se autodenominar “transformadora”, “progressiva”, “social”. O estranho é que “bíblica” não é um adjetivo que entraria para essa lista. Por quê? Afinal, em épocas de grande transformação e renovação da igreja, vemos que foram a leitura e o estudo da Bíblia que geraram reformas como a Protestante do século 16, os avivamentos na América do Norte nos séculos 18 e 19, as reformas na Igreja Católica na década de 1960 e o Movimento de Lausanne na década de 1970. Todos estes movimentos surgiram porque alguns procuraram levar a Bíblia a sério em seus respectivos contextos.

Em termos práticos, precisamos de menos modismos e mais estudos cuidadosos da Bíblia. Tal afirmação parece simples demais. Porém, somos reféns de nossa autossuficiência e temos medo de ver o que o Espírito faz quando dois ou três se reúnem para ouvir as palavras de Deus. É mais confortável criarmos esquemas elaborados de ensino, de metodologias, de crescimento da igreja e transformação da sociedade, ficando assim longe das palavras da Bíblia. Frequentemente somos como Jerusalém, nos apoiando em nossas habilidades e arrogância, cegos e surdos às palavras do Senhor.

O Vale da Visão é o nome enigmático que Isaías deu a Jerusalém. Talvez porque ali recebeu profecias marcantes, talvez porque era o único a ver a calamidade por vir. A cegueira de Judá é a pandemia de hoje?

Rosalee Velloso Ewell
(Revista Ultimato - ed. 319 - Deixem que elas mesmas falem)

04/09/2009

A várzea de todo jovem!

Antes de deitar vá se masturbar!

Esses dias estive conversando com o meu grande amigo Pr. Marcos Botelho, e em nossas conversas acabamos descobrindo a nova campanha publicitária do mercado: Fazer você se masturbar antes que acabe o seu dia!

Chegamos a essa conclusão após analisarmos centenas de comerciais, baner, fotos, roupas e folhetos que recebíamos e víamos no aeroporto.

Mulheres de biquíni, roupa decotada, seios e bundas totalmente a exposição, poses eróticas, roupas sensuais, olhares certeiros, convites promíscuos e outras milhares de formas de excitação visual. Tudo isso em apenas um dia!

Certa vez em uma aula com o Pr. Jasiel Botelho, lembro-me que ele disse algo interessante: “Hoje o mundo masturba o homem.” Ele estava totalmente certo.
Em tudo é possível observar um apelo sexual, mesmo que não tenha nada a ver com o produto que está sendo mostrado, o importante é atrair a atenção das pessoas, e para fazer isso nada melhor que mexer com a libído de cada um.

Por outro lado, vemos o discurso da igreja aos jovens e adolescentes pedindo para não transarem antes do casamento, ou não se envolverem com pornografia. Tentando de diversas maneiras impedir que a sua juventude seja contaminada com esse tipo de coisa.

Não existe um dia em que abro o meu Outlook e não tenha lá um email com uma foto erótica. Toda vez que entro no twitter me deparo com um fake de uma prostituta. No meu orkut sempre vem um vídeo do youtube com uma mulher seminua na tela. Quando ligo a televisão vejo o comercial de pneus mostrando uma bela loira. Ligo o rádio e ouço um funk com as maiores baixarias possíveis. Vou à igreja e vejo irmãs com decotes, gestos sensuais e roupas apertadas. Percebo que até minha mente está impregnada de imagens eróticas e de pensamentos maliciosos ou dúbio. Diante disso me pergunto: Como é possível passar um dia com tanto apelo sexual sem ceder ao prazer da masturbação ou do sexo ilícito?

Talvez a alternativa mais fácil é taxar uma lei, ou citar um versículo e esperar que os adolescentes e jovens cumpram isso. Mas seria uma irresponsabilidade tamanho ato, pois antes de remediar, acredito que é necessário conhecer o problema que se está enfrentando.

Uma certeza eu tenho: Os apelos sexuais não vão sumir tão cedo e nós também não deixaremos de vê-los tão facilmente.

Eu ainda não encontrei uma resposta para essa questão. Mas sei que é uma luta diária, há dias que se ganha, há dias que se perde. Sei também que se abro uma brecha aqui, acabo escorregando lá na frente, pois a decisão deve vir antes do prazer, se for ao contrário, saiba que será impossível decidir algo.

Se por acaso você caiu, então se levante e tente não cair novamente.
Se por acaso tropeçou, então se levante e continue a correr.
Se por acaso você deitar, que seja para dormir e não para se masturbar!


Calebe Ribeiro - JV
(blog do rapaz - Homem Pensante)

23/08/2009

... definitivamente não é sobre você e eu.

É Tudo Sobre Ele

Jesus é o verdadeiro e melhor Adão, que passou pelo teste no jardim e cuja obediência é imputada a nós.

Jesus é o verdadeiro e melhor Abel que, apesar de inocentemente morto, possui o sangue que clama, não para nossa condenação, mas para completa absolvição.

Jesus é o verdadeiro e melhor Abraão que respondeu ao chamado de Deus para deixar todo o conforto e a família e saiu para o vazio sem saber para onde ia, a fim de criar um novo povo de Deus.

Jesus é o verdadeiro e melhor Isaque, que foi não somente oferecido pelo Seu Pai no monte, mas foi verdadeiramente sacrificado por nós. E assim como Deus disse a Abraão, “agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho”, nós também podemos olhar para Deus levando Seu Filho até o alto do monte e sacrificando-o, e então dizer, “Agora nós sabemos que Tu nos amas porque não retiveste Teu Filho, Teu único Filho a quem Tu amas, de nós.”

Jesus é o verdadeiro e melhor Jacó que lutou e sofreu o golpe de justiça que merecíamos, de forma que nós, assim como Jacó, só recebêssemos as feridas da graça para nos despertar e disciplinar.

Jesus é o verdadeiro e melhor José que, à destra do rei, perdoa àqueles que o venderam e traíram e usa o seu novo poder para salvá-los.

Jesus é o verdadeiro e melhor Moisés que se põe na brecha entre o povo e Deus e que é mediador de uma nova aliança.

Jesus é a verdadeira e melhor Rocha de Moisés que, golpeada com a vara da justiça de Deus, agora nos dá água em pleno deserto.

Jesus é o verdadeiro e melhor Jó, sofredor verdadeiramente inocente, que então intercede e salva os seus tolos amigos.

Jesus é o verdadeiro e melhor Davi, cuja vitória torna-se a vitória do Seu povo, apesar deles nunca terem movido uma única pedra para conquistá-la.

Jesus é a verdadeira e melhor Ester que não apenas arriscou deixar um palácio terreno, mas perdeu o definitivo e divino; que não apenas arriscou sua vida, mas entregou-a para salvar o Seu povo.

Jesus é o verdadeiro e melhor Jonas que foi lançado para fora, na tempestade, para que nós pudéssemos ser trazidos para dentro.

Jesus é a verdadeira Rocha de Moisés, o verdadeiro Cordeiro pascal, inocente, perfeito, desamparado, sacrificado para que o anjo da morte não atentasse contra nós. Ele é o verdadeiro templo, o verdadeiro profeta, o verdadeiro sacerdote, o verdadeiro rei, o verdadeiro sacrifício, o verdadeiro cordeiro, a verdadeira luz, o verdadeiro pão.

A Bíblia definitivamente não é sobre você e eu. É sobre Ele.


Tim Keller

(extraído do blog do Jota)

07/05/2009

E o que se fala sobre a Igreja na várzea?

A escolha entre o clube e o caminho

Há dois modelos básicos de igreja. Há os chamados para fora... e os chamados para dentro.
Igreja, de acordo com Jesus, é comunhão de dois ou três... em Seu Nome... e em qualquer lugar... E mais: podem ser quaisquer dois ou três... e não apenas um certo tipo de dois ou três... conforme os manequins da religião.
Igreja, de acordo com Jesus, é algo que acontece como encontro com Deus, com o próximo e com a vida... no ‘caminho’ do Caminho.
Prova disso é que o tema igreja aparece no Evangelho quando Jesus e Seus discípulos estavam no ‘caminho’ para Cesareia de Filipe: um lugar ‘pagão’ naqueles dias.
Assim, tem-se o tema igreja tratado no ‘caminho’ e em direção à ‘paganidade’ do mundo.
Para Jesus o lugar onde melhor e mais propriamente se deve buscar o discípulo é nas portas do inferno, no meio do mundo! Não posso conceber, lendo o Evangelho, que Jesus sonhasse com aquilo que depois nós chamamos de ‘igreja’.
Digo isto porque tanto não vejo Jesus tentando criar uma comunidade fixa e fechada, como também não percebo em Seu espírito qualquer interesse nesse tipo de reclusão comunitária.
No Evangelho o que existe em supremacia é a Palavra, que tanto estava encarnada em Jesus como era o centro de Sua ação. No Evangelho nenhuma igreja teria espaço, posto que não acompanharia o ritmo do reino e de seu caminhar hebreu e dinâmico.
Jesus escolhe doze para ensinar... não para que eles fiquem juntos. Ao contrário, a ordem final é para ir... Enfim... são treinado a espalhar sementes, a salgar, a levar amor, a caminhar em bondade, e a sobreviver com dignidade no caminho, com todos os seus perigos e possibilidade (Lc 10).
No caminho há de tudo. Jesus é o Caminho em movimento nos caminhos da existência. E Seus discípulos são acompanhantes sem hierarquia entre eles.
No mais... as multidões..., às quais Jesus organiza apenas uma vez, e isto a fim de multiplicar pães. De resto... elas vem e vão... ficam ou não... voltam ou nunca mais aparecem... gostam ou se escandalizam... maravilham-se ou acham duro o discurso...
Mas Jesus nada faz para mudar isto. Ele apenas segue e ensina a Palavra, enquanto cura os que encontra.
Ao contrário..., vemos Jesus dificultando as coisas muitas vezes, outras mandando o cara para casa, outras dizendo que era preciso deixar tudo, outras convidando a quem não quer ir...; ou mesmo perguntando: Vocês querem ir embora?
Não! Jesus não pretendia que Seus discípulos fossem mais irmãos uns dos outros do que de todos os homens.
Não! Jesus não esperava que o sal da terra se confinasse a quatro dignas e geladas paredes de maldade.
Não! Jesus não deseja tirar ninguém do mundo, da vida, da sociedade, da terra... mas apenas deseja que sejamos livres do mal.
Não! Jesus não disse “Eu sou o Clube, a Doutrina e a Igreja; e ninguém vem ao Pai se não por mim”.
Assim, na igreja dos chamados para fora, caminha-se e encontra-se com o irmão de fé e também com o próximo que não tem fé... e todos se trata com amor e simplicidade.
Em Jesus não há qualquer tentativa de criar um ambiente protegido e de reclusão; e nem tampouco a intenção de criar uma democracia espiritual, na qual a média dos pensamentos seja a lei relacional.
Em Jesus o discípulo é apenas um homem que ganhou o entendimento do Reino e vive como seu cidadão, não numa ‘comunidade paralela’, mas no mundo real.
Na igreja de Jesus cada um diz se é ou não é...; e ninguém tem o poder de dizer diferente... Afinal, por que a parábola do Joio e do Trigo não teria valor na ‘igreja’? Na igreja de Jesus... pode-se ir e vir... entrar e sair... e sempre encontrar pastagem.
O outro modo de ser igreja é, todavia, aquele que prevaleceu na história. Nele as pessoas são chamadas para dentro, para deixar o mundo, para só considerarem ‘irmãos’ os membros do ‘clube santo’, e a não buscarem relacionamentos fora de tal ambiente.
A comunidade de Jerusalém tentou viver assim e adoeceu!
Claro!
Quem fica sadio vivendo num mundo tão uniforme e clonado?
Quem fica sadio não conhecendo a variedade da condição humana?
Quem fica sadio se apenas existe numa pequena câmara de repetições humanas viciadas?
Sim, quem pode preservar um mínimo de identidade vivendo em tais circunstâncias? Nesse sapatinho de japonesa?
É obvio que os discípulos precisam se reunir..., e juntos devem ter prazer em aprender a Palavra e crescer em fé e ajuda mutua. Todavia, tal ajuntamento é apenas uma estação do caminho, não o seu projeto; é um oásis, não o objetivo da jornada; é um tempo, não é o tempo todo; é uma ajuda, não é a vida.
De minha parte quero apenas ver os discípulos de Jesus crescendo em entendimento e vida com Deus, em amizade e respeito uns para com os outros, em saúde relacional na vida, e com liberdade de escolha, conforme a consciência de cada um.
O ‘ajuntamento’ que chamamos igreja deve ser apenas esse encontro, essa estação, esse lugar de bom animo e adoração.
O ideal é que tais encontros gerem amizade clara e livre, e que pela amizade as pessoas se ajudem; mas não apenas em razão de um certo espírito maçônico-comunitário, conforme se vê... ou porque se deu alguma contribuição financeira no lugar.
A verdadeira igreja não tem sócios... Tem apenas gente boa de Deus... e que se reúne e ajuda a manter a tudo aquilo que promove a Palavra na Terra.
Tenho pavor de comunidades!
Elas são ameninantes para a alma, geram vilas de doenças, produzem inibição dos processos de individuação, e tornam os homens eternos imaturos... sempre com medo do mundo e da vida.
Sem falar que em todo mundo muito pequeno, como o da ‘comunidade’, as doenças tendem a aumentar... e a ganhar caras e contornos de perversidade travestida de piedade...
É o que eu chamo de peidade!
Fica todo mundo querendo se meter onde não foi chamado... É um inferno!
No ‘Caminho da Graça’ estou tentando levar as pessoas a esse entendimento e a essa maturidade, e não tenho nenhuma outra vontade interior de fazer daquilo mais uma ‘igreja’.
Quero ver pessoas que sejam ‘gente boa de Deus’; gente descomplicada e desviciada de ‘igreja’; gente que aprenda o bem do Evangelho primeiro para si e em si mesmas..., e apenas depois para fora...
Portanto, não se trata de um movimento ‘sacerdotal’, intimista e fechado; mas sim de um andar profético, aberto e continuo...
Lá não se busca a média da compreensão... Ao contrário, lá se força a compreensão...
Lá só fica quem realmente quer... e não tento jamais dissuadir ninguém ao contrario de sua vontade.
Não há complicação. Tudo é muito simples.
E quem não achar que serve, está sempre livre a achar o que lhe agrada em qualquer lugar.
Ou não foi assim que Jesus tratou a tudo no caminho?
A escolha que se tem que fazer é essa: ou se quer uma ‘comunidade’ que existe em função de si mesma, e para dentro; ou se tem um ‘caminho de discípulos’, e que se encontram, mas que não fazem do encontro a razão de ser da vida.
A meu ver, no dia em que prevalecer o modelo do ‘caminho’, conforme Jesus no Evangelho, a vida vai arrebentar em flores e frutos entre nós e no mundo à nossa volta; e as pessoas serão sempre muito mais humanas, descomplicadas e sadias... Mas se continuar a prevalecer o modelo ‘comunitário de Jerusalém’... que de Jerusalém tem apenas o intimismo e o espírito sectário... não se terá jamais nada além do que se teve nesses últimos dois mil anos; ou seja: esse lugar de doentes presunçosos a que chamamos de ‘igreja’.
Para isto... para esta coisa... não tenho mais nenhuma energia para doar. Mas para a vida como caminho, ofereço meu coração mais jovem do que nunca.

CaioFábio
Blog do Caminho



Do lado de cá da várzea ainda estamos presos à instituição. Mas é louvável quem se solta, admiramos quem não se acorrenta. Não julgamos, não nos deixamos levar pelo que se diz por aí, das coisas que aqui estão escritas nada acrescentamos, nada retiramos simplesmente sonhamos.

30/04/2009

A cara do Brasil

Outro dia, ao chegar ao Rio de Janeiro, tomei um táxi. O motorista, jeito carioca, extrovertido, foi logo puxando papo, de olho no retrovisor.

- A senhora é de Brasília, não é?

- Sim - respondi.

- É, eu a reconheci. E como é que a senhora aguenta conviver com aqueles ladrões lá do Planalto Central? Não deve ser moleza.

O sujeito disparou a falar de políticos, do tanto que eles são asquerosos, corruptos... Desfiou um rosário de adjetivos comuns à politicagem nacional.

Brasília é o palco mais visível dessas mazelas e nem poderia deixar de ser. Afinal, o país inteiro olha para lá. O taxista era só mais um crítico, aparentemente atento. E ele sabia dar nomes aos bois que pastavam tranquilamente no orçamento da união, que se espreguiçavam impunemente sob a sombra da imunidade parlamentar ou de leis feitas em benefício próprio. E que, de tempos em tempos, se refrescavam nas águas eleitoreiras.

O carro seguia em alta velocidade; a distância parecia esticada. Vi uma bandeira três em disparada.

Lá pelas tantas, quando já estávamos dentro de um segundo túnel escuro, o condutor falante sugeriu um “dia sem corrupção”.

- Já pensou - disse ele - se uma vez por ano esses homens não roubassem?

- Interessante - a exclamação me escapou aos lábios.

- Sim - continuou entusiasmado -, seria uma economia e tanto.

Nessa hora, me dei conta de que estávamos percorrendo o caminho mais longo para o meu destino. Chegava a ser irracional a quantia de voltas para acertar o rumo. Deixei.

- Os economistas comentam - tagarelava ele - que somos um país rico. Não deveria existir déficit da previdência, os impostos nem precisariam ser tão altos, o serviço público poderia ser de primeira. O problema é que quanto mais se arrecada, mais escorre pelo ralo, tamanha a roubalheira.

Tão observador, será que ainda se lembrava em quem tinha votado para deputado ou senador na última eleição? Fiz a pergunta e, depois de algum silêncio, a resposta foi não. Pena.

Caímos num engarrafamento, cenário perfeito para aquele juiz de plantão tecer mais comentários sobre o malfeito.

- Veja como são as coisas, os riquinhos ociosos da Zona Sul, que deveriam pensar em quem tem pressa, acham que são os donos do pedaço e vão embicando seus carros, furando fila, costurando de uma faixa a outra, querendo levar vantagem. A gente, que é motorista de táxi, tem que ficar atento, porque os guardas estão de olho, qualquer coisinha eles multam. Mas eles fazem vista grossa para as vans que transportam pessoas ilegalmente. Elas param onde querem, estão tomando os nossos passageiros. Como não tem ônibus para todo mundo e táxi fica caro, muita gente prefere ir de van.

Por falar em “caro”, a interminável corrida já estava me saindo um absurdo... Resolvi pontuar algumas coisas.

- Por que o senhor escolheu o caminho mais longo?

Ele tentou se justificar:

- É que eu estava fugindo do congestionamento.

- Mas acabamos caindo no pior deles - retruquei. E por que o senhor está usando bandeira três se não tenho bagagem no porta-malas nem é feriado hoje? - continuei questionando.

Ele disse que estava na três para compensar a provável falta de passageiro na volta. Claro que não, eu sabia.

Finalmente, consegui chegar ao endereço pretendido. Fiz mais um teste com o “probo” cidadão: paguei com uma nota mais alta e pedi nota fiscal. Ele me devolveu o troco a menos e disse que o seu talão de notas havia acabado.

- Veja como são as coisas, seu moço - emendei. O senhor veio de lá aqui destilando a ira de um trabalhador honesto. No entanto, se aproveitou do fato de eu não saber andar na cidade, empurrou uma bandeirada, andou acima da velocidade permitida, furou sinal, deu voltas, fingiu que me deu o troco certo e diz que não tem nota fiscal!

O brasileiro esperto quis interromper, mas era minha vez de falar.

- O senhor acha mesmo que ladrões são aqueles que estão em Brasília? Que diferença há entre o senhor e eles?

Eu sabia que estava correndo risco de uma reação violenta, mas não me contive. Os “homens” do Planalto Central são o extrato fiel da nossa sociedade. Quantos taxistas desse porte vemos dirigindo instituições? Bons de discursos... Na prática...

Desembarquei com a lição latejando em mim. Quantas vezes, como fez esse taxista, usamos espelho apenas como retrovisor para reter histórias alheias? Nossas caras, tão deformadas, tão retocadas, tão disfarçadas, onde estão? Onde as escondemos que não aparecem no espelho?

Sem a verdade que liberta, jamais estaremos livres de nós mesmos. Ainda sonho com um Brasil de cara nova... A começar por minha própria cara.


Delis Ortiz é jornalista, repórter especial da TV Globo, em Brasília. É mãe de Brenda e Bianca, e avó de Gabriel e Stella. É membro da Igreja Presbiteriana do Planalto.

18/02/2009

Sérias Preocupações...

O amor prova a espiritualidade e conduz à missão

Nestes dias tenho pensado sobre os essenciais do cristianismo. Estou convicto que os periféricos da vida e ministério podem facilmente nos desviar de praticarmos um cristianismo bíblico e simples, fazendo com que nossa atenção, energias, dons e relacionamentos se desgastem nas notas de rodapé de uma religiosidade quase vazia. Há diversos essenciais na vida cristã. Um deles é o amor.

Preocupo-me quando apregoamos uma verdadeira espiritualidade, mas não amamos. Preocupo-me quando a Igreja não consegue chorar com os que choram ou quando nossos relacionamentos vão se tornando cada vez menos sinceros e mais utilitários. Preocupo-me quando o mundo trata o caído com mais graça e misericórdia do que o povo de Deus. Preocupo-me quando a Igreja passa a definir sua experiência de fé a partir de seus ajuntamentos solenes e não dos seus relacionamentos diários. Preocupo-me quando não amamos... (Leia Mais)

Ronaldo Lidório

13/02/2009

Curtindo Beatles com Jesus

Deus não é gospel

Converti-me há 21 anos, em 4 de fevereiro de 1988. A conversão a Cristo promoveu uma verdadeira revolução em minha vida. Experimentei o que significa o amor de Deus. Experimentei, também, o que significa sofrer por causa dessa nova fé. Chacotas, zombarias, humilhações — tudo por causa daquele em quem comecei a crer.

No entanto, aprendi também a criar uma “carapaça” ao meu redor. Vi que talvez fosse melhor me proteger dos temidos ataques do mundo vivendo atrás de um “muro de Berlim” cultural, onde somente aquilo que fosse “religiosamente aceitável” seria admitido. O mais interessante é que esse muro era seletivo. Barrava apenas música e literatura, com exceção da literatura escolar, que era obrigatória. Enfim, aprendi a filtrar aquilo que vinha a mim de acordo com padrões pré-estabelecidos por um ethos social vigente.

Aos poucos, vi essa carapaça contrair trincados e rachaduras. Por meio do pastorado, tive contato com várias realidades no Brasil e fora dele. Em algumas, vi que pessoas que criaram uma carapaça ainda mais grossa do que a minha eram extremamente religiosas, mas que não experimentavam o frescor da graça do crucificado. Em vez disso, exalavam o bolor fétido da religiosidade morta e carcomida dos fariseus contemporâneos de Jesus. Eram capazes de recusar a audição de alguma peça musical devido à sua origem “profana”, mas também se recusavam a viver uma vida de amor cristão, preferindo substituí-la com regrinhas autoglorificantes. E isso tudo em nome de um Deus a quem conheciam só de ouvir falar.

Tive também a oportunidade de conhecer irmãos de outros países que agiam de modo diverso do meu. E vi que, mesmo na diferença cultural, aqueles eram irmãos de valor, com o coração no reino, muito mais até do que eu, com todo o meu escudo confessional.

Nessa minha queda-de-braço cultural com Deus, compreendi melhor o que Paulo quis deixar registrado em Cl 2.20-23: “Se morrestes com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos sujeitais ainda a ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não toques, não proves, não manuseies (as quais coisas todas hão de perecer pelo uso), segundo os preceitos e doutrinas dos homens? As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria em culto voluntário, humildade fingida, e severidade para com o corpo, mas não têm valor algum no combate contra a satisfação da carne”.

Finalmente, vi que estava querendo ser melhor e mais santo que o Senhor. Nessa minha paranoia ególatra, fechei os olhos para a realidade de que “toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação” (Tg 1.17), incluindo, aí, as boas dádivas culturais.

“Diga-me de verdade, diga-me porque Jesus foi crucificado / Foi por isso que papai morreu? / Foi por você? Foi por mim? / Será que assisto muita TV? / Isto é uma ponta de acusação em seus olhos?” Esses não são versos de protesto de alguma banda cristã que questiona a banalidade gospel de hoje em dia. São os versos iniciais da música “The post war dream”, do Pink Floyd. Vejo hoje, portanto, que Deus está muito além de nossas limitações culturais. Ele pode usar, caso queira, uma peça teatral, um texto de jornal, uma música para sua glória, independente da confessionalidade. Sua soberania nos mostra que Deus não é gospel. Sua graça nos permite ver a sua beleza por meio da beleza artística, seja ela evangélica ou não.

Enfim, a graça de Deus me mostra, entre outras coisas, que posso curtir boa música, independentemente do rótulo, com o Senhor.

Rodrigo de Lima Ferreira
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