08/10/2009

Religião é uma Várzea (Parte 1)

O Reino da Delicadeza
Um desconforto vem me acompanhando há bastante tempo. A dificuldade com que muitos recebem a proposta de uma religião radicada no amor e não no medo, na liberdade e não no patrulhamento moral, na maioridade e não na infantilização.

Ouço de tudo. Aquele que acredita que para algumas pessoas uma espiritualidade baseada na consciência e responsabilidade, frutos livres de uma relação de amor e não de constrangimento, é perigosa, quando não, pouco producente para os engajamentos religiosos. Há pessoas, afirmam com um pragmatismo encabulado, que precisam de regras, coerção e cobrança. Precisam de uma religião legalista. Caso contrário, não conseguem vencer seus vícios e pecados.

Outros desconfiam da liberdade. Pregar um Deus que ama em completa independência do desempenho humano é muito arriscado. Deus também é justiça! A Graça de Deus tem que ter limite. Se a pessoa não tiver medo do inferno, vai fazer tudo o que der na cabeça. Se não souber que existe uma punição divina para os seus deslizes, vai se tornar alguém imoral.

Vejo o descontentamento de alguns com a sugestão de que a imperfeição não é pecaminosa, mas um dom divino que torna a vida significativa e mais bonita. E, apesar de ninguém conseguir uma vida perfeita, esbravejam que Deus não pode abrir mão de que sejamos perfeitos.

Tirando de lado a questão semântica, de que a imperfeição a que me refiro é alusão ao que não está pronto, ao que é livre para ser, ou ao que está sempre em via de se tornar. Liberdade e não inconseqüência, leveza e não leviandade. O que, então, incomoda tanto algumas pessoas?

Por que o anúncio libertador de que Deus não espera de nós a perfeição amedronta alguns?

Desconfio de algo. Se tirarem o medo, ou a culpa, de sua fé, ficam sem fé. Se crer em Deus não for um movimento em busca de blindagem diante da insegurança do mundo, ou absolvição sem fim de uma insuperável culpa, revelam-se incrédulos. Ateísmo desesperado.

A religião a que fomos apresentados é um comportamento motivado pelo medo. Medo de não ser aprovado, o que é o mesmo que não ser amado. Ou medo de estar fazendo a coisa errada e ganhar um destino infernal. Foi a partir desse medo que aprendemos a rejeitar comportamentos tidos como réprobos. Fazemos e deixamos de fazer coisas pelo medo de sermos punidos pela implacável justiça divina.

Mas também medo de ficarmos expostos aos infortúnios de uma orfandade religiosa. Vivemos em um mundo inseguro, que muitas vezes se mostra desfavorável à nossa busca de bem estar. A religião promete um apadrinhamento divino. Foi a partir desse medo e da expectativa de um arranjo sobrenatural para garantir uma vida de exceção que aprendemos a cultuar nossas divindades.


Elienai Cabral Junior
(em seu blog - Salvos da Perfeição)

3 comentários:

Rita disse...

Esse texto é bom.

vi youssef disse...

muito legal o texto, jo.

acho q esse eh o meu objetivo, ser cristã, viver bem com Deus, sem viver na alienação de uma religiosidade vazia.

beijo lindo!

Unknown disse...

ÓTIMO TEXTO!!! BRILHANTE!!! Parabéns pelo blog. Quando tiver tempo, dê uma passada lá no Deus no Gibi para ver as novidades que estão no ar. Tem um texto bacana falando que Chico Bento é o menino segundo o coração de Deus e uma entrevista com o autor da história em quadrinhos Yeshuah, que apresenta um Jesus feio e uma Maria adolescente. Veja lá no www.deusnogibi.com.br
Abraços