16/02/2008

Nostalgia Inútil


Como jovem cristão eu grito: não aguento mais! Há tempos que sempre ouço a mesma coisa, as mesmas críticas e as mesmas respostas tímidas e sem fundamento por parte dos que tem sido atacados como eu.
O alvo da discussão são as novas formas usadas principalmente por jovens como eu para louvar a Deus durante os cultos, o que envolve direta e indiretamente tudo aquilo que conhecemos por música gospel. E a gota d´água para que eu decidisse escrever algo sobre o assunto foi o artigo "Adoração na igreja evangélica contemporanêa" com autoria do Pastor Osmar Ludovico da Silva e publicado na última edição da Revista Ultimato (jan/fev 2008). O artigo, muito bom por sinal, faz referência de como a música dentro dos cultos tem perdido o foco de ser ligação direta entre a igreja e Deus, através apenas de Jesus. Sinceramente não discordo de que a música gospel tem realmente se tornado (ou talvez sempre tenha sido) algo comercial, sem profundidade e com qualidade musical vergonhosa considerando que é feita por aqueles que são filhos legítimos do criador da música. Mas em primeiro lugar não podemos generalizar, ainda existem excessões, como sempre existiu, nem tudo é bom, mas nem tudo é ruim. Porém esse não é o caso, não venho aqui pra defender as músicas que eu tenho ouvido e cantado, porque talvez não tenha mesmo razão e argumentos para exaltar sua qualidade. Além disso não seria nada novo eu me colocar dessa maneira, já que tantos outros já assim fizeram, e não conseguiram nada com isso, jovens com as melhores das intenções mas sem conteúdo e teologia, que acabaram saindo infelizes e agravando ainda mais a rixa entre as gerações de diferentes épocas que frequentam as igrejas.
Aqui estou para na verdade atacar algo que me irrita profundamente. Como já diz o título, a nostalgia inútil dos cristãos de décadas passadas, muitos de nossos pais e a maioria de nossos avós, sempre com aquele velho jargão: "Na minha época..." Os velhos e tradicionais hinos em oposição às nossas músicas, guitarras e palmas. Sem contar quando fazem referência à tempos ainda mais remotos como na reforma protestante caracterizada pelas liturgias cheias de cerimônias e simbolismos, valorizando muitas vezes mais esse período do que o próprio Novo Testamento.
Já odiei hinos, mas hoje aprendi a gostar deles. Talvez não tanto como gosto da música gospel, mas consigo compreender e admirar os seus valores e sua profundidade. Mas definitivamente eles não devem ser usados como armas nessa "guerra". Também não quero comparar e analisar o que é melhor: hinos x música gospel. O que eu venho pedir, ou melhor exigir é que vocês de gerações anteriores nos ofereçam algo mais do que um hinário e uma reclamação sobre a altura da bateria. A vida na minha igreja e em tantas outras comunidades passou a acontecer ao redor de discussões como essa, deixando de lado aquilo que realmente importa a todos.
Minha geração tem se perdido. Creio que nunca os jovens cristãos foram tão ignorantes quanto à política, tão despreocupados com o meio-ambiente, ou esquecidos da responsabilidade de fazer a diferença de segunda a sexta fora do "ambiente religioso". Aprendemos sobre esses assuntos apenas na faculdade e algumas vezes nos livros e na internet, pois não se fala mais sobre nada disso na escola dominical. E vocês pais e avós vem até nós contando que quando eram jovens o culto na igreja era tão bonito, silencioso e calmo, lamentam a saudade do órgão. Cansei dessa superficialidade! Eu queria mesmo era ouvir histórias daquilo que faziam fora das quatro paredes de um templo, de como agiam frente as injustiças do governo durante a ditadura, ou então como pregavam o evangelho enquanto trabalhavam ou conversavam com os vizinhos. Mais do que isso eu queria ver exemplos vivos, agindo na minha frente em favor do reino de Deus, me ensinando aquilo que realmente me importa fazer como servo de Deus, ao invés de quererem escolher as músicas que eu devo cantar, tocar ou escutar.
Exemplo exagerado mas que cabe no assunto, foi o de Jesus. Muito mais do que a preocupação com um culto dominical, ou um sábado guardado à Deus, ele queria ensinar aos discípulos como agir durante o resto da semana. Paulo então, me mostra um caso ainda mais próximo da minha realidade quando escreve a Timóteo: "... torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé e na pureza." (I Tm. 4:12) Não diz nada sobre música sem falar que ele, Paulo, tinha moral pra dizer essas palavras e Timotéo sabia disso, pois havia acompanhado um pouco da vida desse missionário extraordinário.
Uma dúvida me assombra então, ou realmente vocês não são exemplos para minha geração ou realmente adoração é aquilo que cantamos durante alguns minutos em um domingo a noite.
Aviso: não será com hinários velhos e lembranças saudosas de tempos não vividos que vocês nos mostrarão a face de Cristo.

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